Viagem ao Senegal (Dia 8)

Acordados neste aconchegante destino de férias, sentimos que estaria para mudar (e mais à frente irão verificar que tínhamos razão) por isso aproveitámos o que a casa tinha para dar :
IMG_3201
E nada melhor do que fazer palhaçadas com a minha amiga de brincadeiras:
DSC08105
Este foi o jipe que alugámos. Como no veículo anterior surgiram problemas de radiador, neste decidimos verificar o estado do motor antes da grande viagem. Aparentemente tudo estava bem:
IMG_3208
A distância a percorrer era a maior que tínhamos feito até então. Cerca de 800 km, o que ocuparia o dia inteiro! Ofereci-me para conduzi-los pois sempre tive o desejo de conduzir em África:
IMG_3260
A descentralização do guiador e o ar condicionado ter deixado de funcionar nas primeiras covas, deixou-nos de pé atrás e passados 30km heis que sinto que as mudanças estão a custar a entrar. Aquilo intensificou-se e avisei os acordados que iria encostar. Foi em bom tempo pois o pedal da embraiagem colou ao fundo e não mais subiu, mais uma vez no meio de uma planície sem casas à vista. A boa disposição e espírito dos Senegaleses fez com que os escassos veículos que por nós passavam, parassem a perguntar se queríamos ajuda. Com a ajuda de um motociclista, fizeram chegar até nós um mecânico que ali mesmo, só com um alicate e chave de fendas, conseguiu restaurar o tubo de óleo da embraiagem. Com tal serviço voltámos à estrada:
IMG_3231
Camiões sobre-lotados e tortos, paisagens lindas:
IMG_3214
IMG_3222
IMG_3249
IMG_3286
Quando vimos montes de térmitas de mais de 2 metros resolvemos parar:
IMG_3291
E ao voltar para o carro apareceu-nos uma criança a pedir dinheiro. É comum rapazes e homens de todas as idades pedirem, mas este era diferente. O nosso guia tirou a t-shirt e vestiu-lha. Só falavam em Wolof e traduziu-nos que tinha sido entregue a um lider espíritual para aprender o Corão. Os seus pais deixaram-no aos 6 anos e só o iriam buscar aos 16, enquanto isso ele e dezenas de outras crianças tinham que arranjar uma soma de dinheiro, arroz, açucar e fruta. Ao fim do dia, se tal não conseguissem, ou fugiam ou levavam tareia. Demos-lhe a soma em falta e de comer. Ao ver isto, outra criança se chegou com a mesma história, e depois outra! A nossa vontade era ir procurar o tal líder, mas quando partíssemos seria pior. Assim sendo, fizemos o melhor que pudemos, trocámos-lhes as roupas pelas mais pequenas que tínhamos e deixámos o nosso coração:
DSC08112
O resto da viagem foi feita em silêncio. Chegámos ao destino já de noite e foi difícil encontrar onde dormir. Soubemos de um acampamento que iria abrir (a estrear) e fomos, mas apesar de novo era o oposto do da noite anterior:
DSC08116
E estávamos mais uma vez com companhia:
DSC08114
Mas depois de tantos quilómetros e emoções tínhamos de dormir de qualquer forma.

5 comentários:

Sara Levy disse...

Meu deus só emoções. Nem imagino o q sentiram ao ouvir as histórias dos meninos e deixa-los para trás...


Beijinho

Margarida disse...

há 11 anos, no Quénia, vimos muitas situações iguais. Mas a pior de todas, para mim, que não consigo controlar-me e dou, foi uma rapariga enfezada que se dirigiu a nós a pedir, e dei-lhe a minha última maçã. Olhou-nos com desprezo e mandou fora.
Depois disso, fechei os cordões à bolsa.
No regresso a Portugal, comprei material escolar e enviei para as escolas locais, por intermédio de funcionários do Hotel.
Não faço ideia se algum dia lá chegou

cê-agá disse...

podia ter percorrido milhares de quilometros, que depois de ver esse bichinho (que de inho, tem pouco), não dormiria por nada deste mundo. não imaginas o que passei em cabo verde, onde elas voam e tudo!

Valter Cláudio disse...

Como sempre um post fantástico, os teus post's parecem-me livros, quando os estou a ler estou sempre desejoso e curioso pelo próximo capítulo, aqui ocorre o mesmo, só me apetece ler mais um post.
Abraço

http://valterclaudio.blogspot.com

Bid disse...

Sara: Basicamente foi sentimento de impotência. Mas um dia, com mais recursos, hei-de fazer um pouco de diferença! Beijo

Margarida: Ali notava-se bem quem fazia do pedir profissão e quem o fazia por necessidade. Mesmo na abordagem era possível ver.. e havia homens de idade que ficavam com olhos a brilhar. Olhos não mentem.
Nós vamos enviar roupa para o nosso guia e ele disse que ia entregar em mão a crianças desfavorecidas. Se ele deu a sua própria t-shirt é porque sabe das necessidades reais.
Mesmo que não tenham chegado, o teu coração fez o que era preciso =)

cê-agá: Acabavas por adormecer de cansaço! Ali não podíamos fazer nada pois o telhado era de palha e a passavam por baixo da porta. Mas ali nem foi o pior.. cheguei a estar na casa de banho de uma casa com 3 a olhar para mim =P

Valter: Obrigado pelas palavras =) Ainda há mais uns capítulos, por isso vai passando =) Abraço