Levo o que nunca pensei ter levado...

Sou um gajo de ciências. As coisas nunca surgiram do nada, sempre tiveram explicação.

Há certezas que o universo proporciona mesmo no que não vemos: gravidade, eletromagnetismo e outras forças. Regi-me pelos mesmos princípios em sentimentos fortes. Tive confiança cega de que eram constantes e imutáveis, até porque o nosso tempo neste mundo é uma infinita parte que nem é tomada em consideração.

Para mim éramos dois corpos celestes que iríamos sofrer mutuamente a ação da força gravitacional atrativa e que assim seriamos para sempre. Esqueci-me que essa atração é proporcional às nossas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre nós. 

Assim, a sua órbita entrou na de outro corpo com maior poder de atração e o nosso universo, como conhecíamos, nunca mais será o mesmo. 

Ainda não consegui aperceber-me do impacto que isto teve em mim. Pelo que aconteceu já nem sei se era o meu Sol, outro planeta ou apenas uma lua. Quem girava à volta de quem? Nem sei se assim me mantenho como/onde estava ou se me vai levar para longe sem rumo.

Para já, vou tentar acertar a rotação sobre o meu próprio eixo e preocupar-me mais com o que/quem habitava em mim. Tenho que transformar toda esta dor e raiva em algo mais.




Levo âncoras

Porque fiquei à espera? Porque não queria avançar. Porque avançar significaria aceitar um futuro sem ela e isso era algo que não estava preparado.

Levo a revolta

Sou calmo.

Revolto-me com injustiças.

Revolto-me quando não me conseguem entender.

Revolto-me quando assumem que não sou bom nas minhas intenções. 

Revolto-me quando se focam em 1 coisa má e não nas outras 999 coisas boas.

Perco-me quando é feito pela pessoa que melhor me devia conhecer.

Levo as músicas que aparecem como banda sonora

 


Levo o que não queria levar

Prometi a mim mesmo que não iria dizer mais nada.
Prometi a ela que não a chatearia mais com isto do amor que eu sinto.

Quebrei ambas as promessas e saíram-me todas as frustações das últimas semana numa viagem de carro. Saíram-me como uma avalanche impossível de conter. Tentei mais uma vez explicar tudo, em como me magoava ser ignorado, provei que não tinha respostas sequer às minhas propostas, voltei às mesmas juras de amor e que é preciso uma oportunidade para algo se alterar, e, perante o "não consigo", disse de novo que não falaria mais, que seria ali mesmo o fim. Mas abriu uma janela com um "amanhã falamos". Para mim, esta janela era do tamanho de um campo aberto e aceitei o "doce" como uma criança, mesmo sabendo que era errado e lembrando que os adultos tinham dito para não aceitar!

O amanhã tardou a chegar, esteve para não acontecer devido aos tropeções que sempre se fazem sentir. Aconteceu. Só que não trouxe nada com ele. Na dúvida que tivesse passado sem me aperceber ainda perguntei se havia algo. Não havia!

Deveria ter parado aí novamente. Qualquer pessoa teria parado aí, mas como um viciado voltei a falhar com ambos e no "desespero" enviei a mensagem:

"Pensava que irias dizer algo. É que preocupo-me realmente contigo e amo-te profundamente. Já o disse várias vezes mas volto a dizer uma última: acredito que posso levar esta relação a um patamar em que seja insubstituível. Sei que há coisas que temos que mudar, senão não teríamos acabado, e estou preparado para fazer tudo o que for preciso. Estou disposto porque esta relação é importante para mim. Se queres que funcione, porque te preocupas comigo e gostas de mim ao mesmo nível, acredito que darás uma hipótese. Se genuinamente não queres lutar ou não queres permitir que eu lute por isto, é porque és tu que estás certa e é a relação errada."

Não obtive resposta escrita. Obtive a resposta em forma de mais uma falta de resposta.

Tive esperanças.




Se tive.


Amar é também aceitar.


Levo pedidos mudos

"Podemo-nos apaixonar novamente? Limpar todas as asneiras que fizemos, reiniciar tudo esquecendo o passado? Construir tudo de novo, mas de forma correta. És a minha pessoa e não o posso fazer sem ti."



Levo o que der

 Encontrámo-nos partidos.


Consertei-te de coisas que não fui eu que causei.

Consertaste-me e depois partiste completamente.

Levo o peso da bagagem num novo recomeço


"O amor é uma companhia.

Já não sei andar só pelos caminhos,

Porque já não posso andar só.

Um pensamento visível faz-me andar mais depressa

E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.

E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.

Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.

Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio."

"O Pastor Amoroso" Alberto Caeiro



Levo a falta de tempo

O tempo é igual para todos: cada dia tem 24h; tem 1440minutos; tem 86400segundos.

Tenho perdido dias à espera que usem segundos comigo mas neles apenas acumulei pedidos ignorados, mensagens por ler e respostas por dar.

Foi duro ter deixado de ser uma prioridade. Foi duro ver outros tomarem o meu lugar. Mas nada se compara com o momento em que me apercebi que já não valho uns segundos do seu tempo.


Tinha oferecido tudo o que que era necessário (ou mais) para reverter a situação e não entendia porque não aceitava, porque não era suficiente...

...o meu tempo já tinha passado.